sábado, 20 de junho de 2009

Salmos

Os salmos expõem esse estado de coisas mais explicitamente que qualquer outro livro das Escrituras. São dois os princípios que constituem a base do livro em seu conjunto. Primeiro: existe, em meio aos maus, um remanescente que crê em Deus. Segundo: o Senhor e o Seu Ungido enfrentam oposição da parte do povo e das nações (Salmos 1 e 2). Temos também os conselhos de Deus em Seu Ungido, Filho de Deus e Rei e depois Dominador de toda a terra. Se Ele for rejeitado, então os fiéis deverão sofrer e tomar a própria cruz (Salmos 3-7). No salmo 8, Ele é apresentado como o Filho do Homem colocado sobre todas as obras de Deus. Com o salmo 9, inicia-se a história do remanescente no meio de Israel. Certos princípios servem de guia à leitura desse livro. Sabemos que os salmos são divididos em cinco livros: 1 a 41; 42 a 72; 73 a 89; 90 a 106; 107 a 150. O método seguido nos salmos, de modo geral, é iniciá-los com um pensamento principal e fundamental e depois acrescentar as experiência do remanescente nas circunstâncias apresentadas como base.
Assim, no primeiro livro os salmos 9 e 10 são a base; os salmos seguintes, até o final do salmo 18, expressam os sentimentos que têm ligação com ela. Mas os últimos três nos apresentam mais diretamente a Cristo. O salmo 18 é notável por associar toda a história de Israel, da saída do Egito até o final, aos sofrimentos de Cristo. Os salmos de 19 a 21 apresentam diversos testemunhos acerca de Deus: a criação, a Lei e Cristo. O salmo 21 mostra a introdução de Cristo na glória. O salmo 22 apresenta-O não só em conexão com os judeus, mas como feito pecado diante de Deus. Antes do salmo 25, não encontramos confissão de pecados. Nesse primeiro livro, o enfoque repousa sobre a pessoa de Cristo. Quanto ao remanescente, ele se encontra em Jerusalém, porém na presença dos maus.
No segundo livro, o remanescente é visto fora de Jerusalém. No salmo 45, o Messias é introduzido, e daí em diante encontramos o nome do Senhor (ou Javé). E, quando encontramos esse nome, a fé reconhece a relação entre o povo e seu Deus (compare salmo 14 com salmo 53). Observe mais uma vez que o primeiro ou os primeiros versículos de cada salmo habitualmente apresentam o assunto (ou tese), e os versículos seguintes descrevem o caminho para chegar à conclusão. Nessa segunda divisão do livro, as aflições de Cristo ocupam bastante lugar, depois vêm os desejos de Davi por estabelecer o seu filho no reino milenar.
O terceiro livro, ao mesmo tempo em que menciona Judá e Sião, contempla Israel como um todo, fazendo um retrospecto da história do povo, seguindo-a até o pacto firmado com Davi e sua semente.
O quarto livro, depois de recordar Moisés e lembrar que o Senhor sempre fora o Deus de Israel e após mencionar o Messias e o sábado, apresenta por fim o Senhor em Sua vinda para estabelecer o Seu Reino. Descreve a Sua comitiva descendo das alturas até assentar-se entre os querubins e até que as nações sejam convocadas a se prostrar diante dEle e Lhe render culto. Nesse livro, encontramos os princípios do governo de Cristo, a Sua rejeição, a Sua divindade e a duração de Seus dias como homem Ressuscitado. Finalmente, temos a benção do povo e do mundo mediante a Sua presença. Deus se lembra da promessa que fez a Abraão. Israel tem se portado com infidelidade, mas Deus, por graça, jamais Se esquece deles.
O quinto livro estende-se até o período final. Descreve os princípios e os caminhos do Senhor, o retorno do povo à sua terra (os Cânticos dos Degraus) e Cristo entrementes assentado à destra de Deus, como Filho de Davi, feito Senhor. A benignidade do Senhor dura para sempre; a Lei está escrita no coração do Israel que outrora se havia desviado. Então, depois dos Cânticos dos Degraus e do julgamento da Babilônia, vem o grande Hallel (ou aleluia): uma série de cânticos de louvor. Os únicos salmos que descrevem o Reino propriamente dito são o 72 e o 145.
O livro dos Salmos começa mostrando um Cristo rejeitado; depois, fazendo menção de Sua volta para estabelecer o Reino, fala-nos dos caminhos do povo e de seu restabelecimento na terra. É notável que, nos Salmos, jamais encontramos a Deus na condição de Pai nem os sentimentos pertinentes à filiação (e/ou adoção). A confiança, a obediência, a fé em meio às dificuldades, a dedicação (como no salmo 63), a fé nas promessas, a fidelidade – tudo isso encontramos nos salmos, porém jamais a relação pai e filho. Por não atentar a esse ponto, o caráter da piedade de várias almas sinceras foi rebaixado pela própria leitura desse precioso livro.

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