segunda-feira, 22 de junho de 2009

Os Evangelhos

Os evangelhos contam a vida do Senhor e o apresentam ao nosso coração, seja por Seus atos, seja por Seus discursos, nos diversos aspectos que O tornam precioso para as almas redimidas, de acordo com a inteligência espiritual que lhes é concedida e segundo as suas necessidades. Esses aspectos, em conjunto, formam a plenitude de Sua glória pessoal, até onde somos capazes de entendê-la enquanto estamos aqui em baixo, nesse vaso de barro. Estão excluídas disso as relações entre Cristo e a Igreja, porque, além do anúncio de que Cristo havia de edificar a Igreja sobre a terra, as demais revelações a respeito desse precioso mistério foram dadas aos apóstolos e profetas pelo Espírito Santo, que foi enviado após a Sua ascensão.
Fica evidente que o Senhor teve que reunir em Sua pessoa aqui na terra, conforme os conselhos de Deus e as revelações de Sua Palavra, mais do que uma característica específica para alcançar tudo aquilo que diz respeito a Sua glória e à manutenção dela e para a manifestação da glória de Seu Pai. Mas para que isso pudesse acontecer era necessário que Ele fosse alguma coisa, seja considerado o que Ele foi enquanto esteve aqui na terra, seja do ponto de vista de Sua verdadeira natureza. Cristo, portanto, devia cumprir a tarefa de que fora incumbido por Deus na condição de servo por excelência, servindo a Deus pela Palavra no meio de Seu povo (veja Sl 40:8-10; Is.49:4-5).
Uma multidão de testemunhas havia anunciado que o Filho de Davi se assentaria, da parte de Deus, sobre o trono de Seu pai. No Antigo Testamento, a realização dos conselhos de Deus com respeito a Israel está intimamente ligada àquele que havia de vir e que, sobre a terra, devia ter a relação de Filho de Deus com Javé Deus. O Cristo, o Messias – ou Ungido, palavra que não é outra coisa senão a tradução desse nome, havia de se apresentar a Israel conforme a revelação e os conselhos de Deus. E esta semente prometida havia de ser Emanuel, Deus com o povo. Os judeus limitaram a sua espera quase unicamente a esse Seu caráter de Cristo: Messias e Filho de Davi, e ainda o faziam à sua maneira: não enxergavam outra coisa senão a elevação de Israel, sem consciência dos próprios pecados e das conseqüências desses pecados.
Entretanto, esse caráter de Cristo não era tudo que a palavra profética havia declarado referente aos conselhos de Deus, anunciados com respeito àquele que era esperado até mesmo pelo mundo. Cisto devia ser Filho do Homem. Esse título que o Senhor Jesus gostava de atribuir a Si mesmo é de grande importância para nós. O Filho do Homem, segundo a Palavra de Deus, é herdeiro de tudo aquilo que, nos conselhos de Deus, havia sido destinado ao ser humano como sua porção em glória – ou seja, de tudo aquilo que Deus devia dar ao ser humano segundo esses conselhos (veja Dn 7:13-14; Sl 8:5-6; 80:17; Pv 8). Mas, para ser herdeiro daquilo que Deus havia destinado ao ser humano, Cristo devia se tornar homem. O Filho do Homem pertenceu verdadeiramente à raça humana. Que verdade precisa e consoladora! Nascido de mulher, Ele verdadeiramente era homem, participando de sangue e carne, feito semelhante aos Seus irmãos, porém sem pecado. Com essa natureza, Ele havia de morrer e ressuscitar para herdar todas as coisas e possuí-las numa condição absolutamente nova – a condição de homem ressurreto e glorificado. Isso porque a herança havia sido maculada pelo homem em rebelião contra Deus, e os co-herdeiros de Cristo era culpáveis tanto quanto os demais seres humanos.
Jesus, então, havia de ser o Servo por excelência, o grande Profeta, o Filho de Davi e o Filho do Homem. Por conseguinte, era verdadeiro homem sobre a terra, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, descendente de Davi, herdeiro dos direitos da família de Davi, herdeiro do destino do ser humano conforme a intenção e os conselhos de Deus. Por isso, convinha que glorificasse a Deus, de acordo com a posição em que o ser humano se encontrava e em que havia falhado, no que diz respeito à sua responsabilidade. Convinha que correspondesse a essa responsabilidade, glorificando a Deus, e que rendesse durante a Sua vida aqui na terra o testemunho de um profeta, sendo a “testemunha fiel”. Quem poderia reunir em sua pessoa todas essas características? Deveria essa glória ser apenas uma glória oficial, anunciada no Antigo Testamento como a glória que um homem deveria herdar? A situação do ser humano, manifestado debaixo da Lei, demonstrava a impossibilidade de ele se tornar, tal como era, participante da benção de Deus. A rejeição ao Cristo trouxe à luz a última prova disso. Com efeito, o ser humano precisava, acima de tudo, ser reconciliado com Deus, e isso à parte de qualquer dispensação e do governo especial de um povo específico sobre a terra. O homem era pecador. A redenção era necessária, tanto para a glória de Deus quanto para a salvação dos seres humanos. Mas quem poderia executá-la? O próprio ser humano tinha necessidade dela; um anjo haveria de guardar a própria posição, ocupá-la e preenchê-la: não podia fazer mais que isso, pois de outro modo não seria anjo. Quem, então, dentre os homens podia ser herdeiro de todas as coisas e ter todas as obras de Deus colocadas debaixo de seu domínio, conforme a Palavra de Deus? Apenas o Filho de Deus devia herdá-las. Ele as criara e tinha o direito de tomar posse delas. Tal pessoa tinha de ser o Sevo, o Filho de Davi, o Filho do Homem. O Redentor; havia de ser o Filho de Deus, o Deus Criador.
A essas diferentes características de Cristo deve-se não somente os aspectos particulares de cada evangelho, mas também a diferença que existe entre os primeiros três e o de João. Aqueles mostram Cristo apresentado ao homem, a fim de que o ser humano o receba, bem como a Sua rejeição como ponto de partida de seu evangelho e apresenta a natureza divina manifestada em uma Pessoa, em cuja presença estavam o ser humano em geral e o judeu, a Quem rejeitaram: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu” (Jo. 1:10).

Mateus
Voltemos um pouco agora. Mateus mostra o cumprimento da promessa e da profecia. Vemos, em seu evangelho, o Emanuel no meio dos judeus e rejeitado por eles. Eles esbarraram, portanto, na pedra de tropeço. Depois, Cristo é apresentado como um semeador da Palavra, mas a busca pelo fruto foi inútil. Entram, em seguida, a Igreja e o Reino, e substituem Israel que deveria ter sido abençoado conforme as promessas, mas as recusou, rejeitando a pessoa de Jesus. Contudo, quando receberem ao Senhor (no futuro), depois do julgamento vir sobre eles, os judeus serão reconhecidos como objetos da misericórdia. A ascensão não é mencionada por Mateus. Por essa razão, cremos que não é Jerusalém, e sim a Galiléia, a cena da entrevista do Senhor com os Seus discípulos após a ressurreição. Jesus está com os pobres do rebanho que obedeceram à Palavra do Senhor, ali onde a luz se elevou sobre o povo que estava assentado nos trevas. A missão de batizar parte também dela e se aplica às nações.

Marcos e Lucas
Marcos coloca diante de nós o Servo e Profeta, Filho de Deus. Lucas apresenta-nos o Filho do Homem. Os dois primeiros capítulos oferecem um agradável quadro do remanescente de Israel.

João
João, como já dissemos, nos faz conhecer a pessoa divina do Senhor, vindo em corpo humano, alicece de toda benção. Ele nos mostra uma obra de propiciação que é a base até mesmo daquela condição onde o pecado não se acha mais, a base dos novos céus e da nova terra onde a justiça habita. No final do evangelho, temos a promessa do Consolador, tudo em contraste com o judaísmo. Em vez de traçar a genealogia do Senhor até Abraão e Davi, a linhagem da promessa; ou até Adão, na condição de Filho do Homem, para que introduza bênçãos ao homem; ou em vez de nos relatar o Seu ministério ativo, na condição do grande profeta que havia de vir, João nos mostra uma Pessoa divina no mundo, o Verbo feito carne.
Paulo e Joõ nos fazem reconhecer que estamos numa posição inteiramente nova em Cristo. Mas João se ocupa principalmente em revelar-nos o Pai por meio do Filho e também da vida pelo Filho em nós. Já os escritos de Paulo nos mostram Deus e nos revelam os Seus conselhos na graça. Temos de considerar também que somente os escritos de Paulo falam da Igreja, à exceção de Pedro (1Pe 2), que menciona a edificação de pedras vivas que formam um edifício ainda não concluído. Somente Paulo, porém, fala da Igreja na condição de Corpo de Cristo.

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