segunda-feira, 22 de junho de 2009

Novo Testamento

- extraído da “Introdução aos livros da Bíblia” de J. N. Darby –

Observações Gerais

O Novo Testamento é de caráter bem distinto do Antigo Testamento. Este nos apresenta a revelação dos pensamentos que Deus comunicou aos que foram os instrumentos dessa revelação, o que nos faz adorar a sabedoria manifestada ali. Deus, contudo, está sempre encoberto atrás do véu. No Novo Testamento, Deus se manifesta. Nos evangelhos, encontramos a Ele próprio: gentil, bondoso, humano, Deus sobre a terra. Em seguida, vemo-Lo irradiando a luz divina nas comunicações subseqüentes do Espírito Santo. Antigamente, Deus fazia promessas e também executava os Seus juízos. Ele governara um povo na terra e havia interagido com as nações por causa desse povo. Deus outorgou-lhe Sua Lei e deu-lhe uma luz crescente por meio dos profetas. A vinda daquele que havia de lhes falar todas as coisas referentes a Deus é claramente anunciada. Mas a presença do próprio Deus, homem no meio de homens, modificou tudo. Ali, Deus deveria ter sido recebido, na pessoa de Cristo, como coroa de benção e de glória. E Sua presença deveria ter banido todo o mal, revelado e conduzido à perfeição todo elemento do bem e proporcionando, ao mesmo tempo, um objeto e um centro para todas as afeições, rendidas em perfeita felicidade, para alegria desse objeto. No entanto, ao rejeitar a Cristo, nossa natureza miserável mostrou o que realmente é: inimizade contra Deus. Ela tornou evidente a necessidade de uma ordem inteiramente nova de coisas, onde a felicidade do homem e a glória de Deus estivessem fundamentadas sobre uma nova criação. Sabemos o que aconteceu. Ele, que era a imagem do Deus invisível, teve de dizer, após o exercício de uma perfeita paciência; “Pai justo, o mundo não te conheceu”, e ainda mais: “Agora, viram-nas (as minhas obras) e me aborreceram a mim e a meu Pai” (Jo. 17:25; 15:24).
Entretanto, esse estado triste do ser humano não conseguiu impedir que Deus levasse a efeito os Seus conselhos. Ao contrário, deu-lhe ocasião de glorificar a Si mesmo quando os cumpriu. Deus não queria rejeitar o ser humano antes que este O rejeitasse. Assim fora no jardim de Éden: o ser humano, consciente do pecado, não podia suportar a presença de Deus e afastou-se Dele antes de Deus o expulsar do jardim. Mas quando o homem, por sua vez, rejeitou a Deus, que viera bondosamente ao encontro de sua miséria, Deus ficou livre – se podemos ousar dizer assim, pois expressão é moralmente correta – para perseguir os Seus desígnios eternos. Ora, nesse caso, Deus não executa a sentença, como fez no Éden, onde o ser humano foi lançado fora de Sua presença. Mas a graça soberana, embora o homem seja irrevogavelmente perdido e se tenha declarado inimigo de Deus, persegue a Sua obra fazendo brilhar a Sua glória aos olhos do Universo pela salvação dos pobres pecadores que haviam rejeitado a Deus. No entanto, para que a sabedoria de Deus fosse manifestada até mesmo nos detalhes, essa obra da graça soberana, na qual Deus Se revelou, devia estar de acordo com todos os Seus caminhos, revelados anteriormente no Antigo Testamento, deixando também espaço suficiente para o Seu governo sobre o mundo.
De tudo isso, resulta que, além da grande idéia dominante, há, no Novo Testamento, quatro temas que se desenvolvem diante dos olhos da fé.
(1) O tema por excelência é que a luz perfeita está manifestada: Deus revela a Si Mesmo. Mas essa luz é manifestada no amor – o outro nome essencial de Deus. Cristo, que é a manifestação dessa luz e desse amor e que, se tivesse sido recebido, teria sido o cumprimento de todas as promessas, é apresentado ao ser humano e, em particular, a Isael (contemplado em sua responsabilidade), com todas as provas pessoais, morais e de poder que fazem com que esse povo não tenha desculpa.
(2) Então, sendo Cristo rejeitado, essa rejeição se revela o meio que torna a salvação possível. Uma nova ordem de coisas (a nova criação, o homem glorificado, a Igreja participando da glória celestial com Cristo) é colocada diante de nossos olhos.
(3) Em seguida, a conexão entre a nova e antiga ordem de coisas com respeito à Lei, às promessas, às profecias e às instituições divinas sobre a terra, é claramente exposta. A nova ordem de coisas é apresentada como cumprimento da antiga, e é posto de lado tudo aquilo que havia envelhecido, sendo mostrado o contraste existente entre ambas e destacada a sabedoria perfeita de Deus em todos os Seus caminhos.
(4) Finalmente, o governo do mundo por parte de Deus é colocado em evidência, e a palavra profética anuncia os juízos e as bênçãos que acompanham a retomada das relações entre Deus e Israel, rompidas por ocasião da rejeição do Messias.
Talvez convém acrescentar-se que tudo que é necessário ao ser humano, como peregrino sobre a terra, até que Deus cumpra em poder com os desígnios de Sua graça, lhe foi abundantemente fornecido. A partir daí, o homem que obedece ao chamado de Deus (embora ainda não esteja de posse daquilo que Deus preparou para ele) tem necessidade de algo que lhe dê direção. Ele precisa conhecer as fontes de poder necessárias à sua caminhada em direção ao alvo de seu chamado e os meios de se apropriar desse poder. Deus, depois de convidá-lo a seguir ao Mestre rejeitado pelo mundo, não o deixa sem luz e todas as instruções que lhe irão iluminar o caminho e mantê-lo no rumo certo.

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