sábado, 9 de maio de 2009

A Vida que é Cristo

Ruth Paxson

Temos estado conscientes de que há uma Pessoa Divina dentro de nós?


“... Eu estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim.” (Gálatas 2:19-20)
Este trecho escolhido começa com um Eu maiúsculo na versão em inglês da American R.V. Existem dois “Eu(s)” maiúsculos nas Escrituras, os quais são exatamente opostos. Um é o Eu de Lúcifer: é a primeira vez que a palavra “Eu” foi usada no universo de Deus e foi quando ele a pronunciou. O outro “Eu” é o Eu do nosso Senhor, o qual Ele usou com Seus discípulos, quando Ele disse “Eu em vós”. O que Lúcifer realmente queria dizer quando ele primeiro usou a palavra Eu, foi – “Não mais Deus, mas Eu”. Isto fez dele o arqui-traidor. Quando ele continuou dizendo – “Eu irei”, isso foi um ato de auto-traição”.
Adão e Eva fizeram a mesma escolha que Lúcifer já tinha feito – O “Eu em lugar de Deus”. “Eu” tornou-se o centro da visão deles, e eles também disseram: “Não mais Deus, mas Eu”. Este “Eu” é também o centro da sua vida e da minha, e quer viver para ele mesmo. Se tiver que haver história nas nossas vidas, deverá haver primeiro uma mudança no nosso relacionamento tanto para com o “Eu” como para com Deus. Nossas vidas devem ser reajustadas de tal maneira que ao invés de – “Não mais Deus, mas Eu”, seja “Já não sou Eu, mas Cristo” de Gálatas 2:19-20.
Mas o “Eu” nunca sairá do trono por si mesmo. Ele nunca se rebaixará ou se retirará em favor de Cristo. Ele deve ser removido afim de ser substituído por Cristo, como centro de nossas vidas. Como se pode fazer isto? Existe somente um lugar aonde isso pode ser feito, e esse lugar é na Cruz de Cristo. O caminho de Deus é o caminho da Cruz, e o caminho da Cruz significa morte. Nós não podemos dizer de uma forma real “Cristo vive em mim” antes de dizermos – “Eu estou crucificado com Cristo”. Essa é a ordem de Deus e não pode ser mudada. Quando o velho “Eu” se retira através da crucificação, a nova vida entra através da ressurreição. Quando o velho “Eu” cai e morre, o novo “Eu” surge e vive.
Por que razão o velho “Eu” é tão abominável e odioso aos olhos de Deus, para que Ele deva tratar tão drasticamente com ele? Eu estou sempre procurando uma visão nova deste versículo. Alguns anos atrás eu compreendi este verso de uma maneira bem definida como um padrão para a minha vida diária. Recentemente eu li um folheto, e recebi uma nova luz nesse versículo, o qual deu lugar a uma nova linha de pensamento com respeito à razão porque Deus teve que levar o velho “Eu” à Cruz para ser crucificado com Jesus Cristo. Eu vou pedir a você que abra a Bíblia em Marcos 10:32-45, e leia esse trecho antes de continuar a ler este artigo.
Nesta passagem o Senhor Jesus contou aos Seus discípulos do sofrimento que O esperava; da zombaria, do tormento e dos acoites, tudo para terminar em morte de crucificação. Alguém poderia pensar que seus corações tivessem sido comovidos enquanto eles visualizavam a agonia que O esperava. Mas muito pelo contrário! Suas palavras pareciam não dizer nada a eles. Por quê? Porque eles estavam preocupados com eles mesmos. Dois deles, Thiago e João, vieram a Ele dizendo: “Mestre, queremos que nos conceda o que te vamos pedir”. Isto é o Ego falando. – Tu nos concedas! Não há nenhum desejo de fazer algo para Ele.
O Senhor Jesus perguntou: “Que quereis que vos faça?” Quanta graça! Que incomparável altruísmo e humildade! Então os dois disseram: “Permite-nos que na Tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda.” Permiti-nos! Não importa que tipo de lugar os outros dez tenham; qualquer lugar será bom pra eles; mas cuida para que nós tenhamos os melhores lugares, por obséquio. Depois que o Senhor tenha nos colocado assentados, pode então assentar os outros em qualquer lugar. Lembre-se que estes dois eram ardentes fundamentalistas. Eles acreditavam no céu. Haveria de haver uma Terra Gloriosa, e eles queriam se assegurar de que eles teriam os melhores lugares ali; eles iriam reservá-los, e queriam obter essa solicitação antes mesmo que os outros tivessem uma chance.
O Senhor fez desta solicitação uma ocasião para ensiná-los mais alguma coisa: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo?” Sim! Vocês estarão comigo na Terra Gloriosa, mas há alguma coisa antes da Terra Gloriosa. Há o cálice – a Cruz! Vocês estão prontos para ir à Cruz? Os lugares que vocês terão na Glória irão depender do fato de vocês irem àquela Cruz comigo ou não; de vocês beberem aquele cálice comigo. Eles não tinham pensado nisto! Eles pensaram somente nos lugares que eles iriam ocupar na Glória – puro e extremo egoísmo. Mas a Cruz vem antes da Glória; o cálice precede o lugar, não somente para eles, mas também para você e para mim. Quando os dez ouviram a conversa eles ficaram muito aborrecidos pelo fato dos dois terem se antecipado a eles e pedido os melhores lugares. A raiva deles suscitou do Senhor Jesus estas palavras maravilhosas, as quais prefiguram a Cruz, e colocam-na bem no centro da experiência cristã:
“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10:43-45)
Não pensariam vocês que a palavra “próprio” teria atingido-os até o âmago? O “próprio” Filho do Homem! Ele tinha o direito de vir esperando ser servido porque Ele era o Filho de Deus. Mas Ele veio também como o Filho do Homem, e isso é o que Ele próprio Se chama aqui. O ego espera obter, Cristo veio para dar. Ele veio não para ser servido, mas pra servir, até mesmo para Se dar a Si próprio à morte da Cruz.
O “Eu” sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O “Eu” quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias, e mesmo ocasionalmente o tempo.
O velho “Eu” tem um grande senso de sua própria importância, e uma presunçosa estimativa de suas próprias habilidades. Ele fica terrivelmente chateado se sua importância não é reconhecida, se seus dons não são valorizados, se seus direitos não são admitidos, ou se ele não é considerado apropriadamente; tudo porque ele veio para ser servido, e não para servir.
O velho “Eu” sabe muita coisa da Bíblia, mas nada da parte que diz: “preferindo-vos em honra uns aos outros”; ou que fala de “não procurando o que é propriamente seu”, ou de “alegrai-vos com os que se alegram”. Sendo assim isso dá lugar ao ciúme e à inveja, talvez até mesmo à falta de perdão, ressentimento, e ódio, tudo porque ele veio para ser servido, não para servir. Ele pode finalmente até fazer uma bondade a alguém, e então quase ter um colapso nervoso porque ele não foi suficientemente apreciado. Os agradecimentos não foram bastante profusos, porque ele veio para ser servido, não para servir.
Ele se orgulha de seu firme julgamento e sábio conselho; e ama ser consultado. Se as pessoas se dão bem sem seu conselho, ou se o seu conselho é dado, mas ignorado, então sua reputação sofre. Ele veio para ser servido. Ele tinha que falar numa reunião e esperava uma grande audiência, mas não havia uma grande audiência; ou talvez a grande audiência estava lá; mas simplesmente saiu sem dizer qualquer palavra de como a reunião tinha sido um sucesso, ou comentado da mensagem maravilhosa que tinha sido dada. Então o velho “Eu” foi para casa cabisbaixo e triste, julgando-se falho e sentindo-se extremamente deprimido e aborrecido. Ele não veio para servir, mas para ser servido e estava desapontado.
Ele queria entregar-se ao trabalho cristão, tinha esperado ardentemente por isso, mas pelo o que ele iria ganhar disto e não pelo o que ele representaria ao trabalho. Logo ele ficou desapontado e cansado e queria desistir. Por quê? Porque ele não veio para ministrar, mas para ser ministrado; e não recebeu o que esperava.
A Principal Causa do Problema
O problema que você e eu temos em nossas vidas e serviço é devido principalmente ao “Eu”. Naturalmente não pensamos assim! Nós continuamos a fazer exatamente aquilo que começou no Éden, nós tentamos colocar a culpa noutro lugar. Mas nenhum de nós pode jamais ser roubado de qualquer paz, alegria, descanso, poder, ou qualquer outra coisa em nossas vidas, que pertence a nós pelo fato de sermos cristãos, a não ser através do velho “Eu”. Ele fica tão amolado por pequenas coisas. A água é cortada justamente na hora que alguém começa a lavar a louça; a carta não vem no dia exato em que é esperada; ou até mesmo alguém começa a escrever uma carta e acaba a tinta da caneta! Como o velho “Eu” se indigna e se enfurece! Que momentos difíceis! Por quê? Ele está ocupado com ele mesmo, toda a vida gira em torno dele. Ele veio, não para ministrar, mas para ser ministrado. É então de se estranhar que haja algum lugar que Deus possa achar para ele a não ser na Cruz do Calvário?
Agora voltemos ao nosso verso. “Eu fui crucificado com Cristo”. Eu acredito que Paulo estava dando testemunho pessoal. Ele nos deu a doutrina que esta em Romanos 6:6, mas aqui ele dá o seu testemunho pessoal de que isto é um fato e de que isto passou a ser a sua própria realidade de vida. Paulo está dizendo aqui: - Eu, Paulo, fui crucificado com Cristo, e não é mais o velho homem que é o centro da minha vida; Outro veio para tomar seu lugar. Já não sou “Eu”, mas Cristo! – Podemos dizer o mesmo como uma realidade viva?
Mas Quem é o Cristo? Qual é a Sua vida? Uma vida assim humilde, santa, pura, justa, tal vida de amor, - isto é este Cristo, Quem é tudo isso, este Cristo não é outro, Quem vive em você e em mim. Que espécie de vida Ele vive? Exatamente a mesma espécie de vida que Ele viveu aqui na terra. Não é outra vida. Ele vive exatamente a vida que Ele está vivendo agora à mão direita de Deus. E Cristo vive em mim!
Existem certo princípios que governaram a vida de Cristo quando Ele viveu aqui na terra; princípios bem definidos e afirmamos muito claramente na Palavra de Deus, e eu vou mencionar a vocês cinco deles. Eu creio que se deixar Cristo viver completamente em mim, então Ele vai viver de acordo com esses mesmos princípios.
Primeiro – Ele vivia puramente para a glória de Deus. Não havia um simples traço de auto-glorificação no Filho do Homem. Ele disse na Sua oração sacerdotal: “Eu terminei o trabalho que Tu me deste”. Isto nos ensina que mesmo antes do desejo de fazer a obra do Pai, o desejo ardente do Seu coração era glorificar o Seu Pai. Ele tanto glorificou o Pai que pôde dizer a Felipe quando este perguntou se poderia ver o Pai – “Aquele que vê a Mim vê o Pai”. Assim este é o primeiro princípio da vida do Nosso Senhor – Glorificar a Deus, e não auto-glorificação.
Segundo – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não houve nenhum agrado próprio em Sua vida. “Eu sempre faço as coisas que Lhe aprazem”; sempre, e não algumas vezes. Este foi um principio permanente em Sua vida – viver para agradar ao Pai.
Terceiro – Ele viveu em completa obediência ao Seu Pai. Não Havia nenhum traço de vontade própria nEle. Ele continuamente dizia: “não seja feita a Minha vontade, mas a Tua”. Em todas as coisas e em todo momento este também era um princípio permanente na vida do Filho do Homem aqui na terra.
Quarto – Ele vivia em absoluta dependência de Seu Pai. Não havia auto-confiança. Ele disse: “... o Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão aquilo que vir o Pai”.
Quinto – Ele viveu somente para Seu Pai. Não havia apenas nenhuma vontade própria, mas também nenhum caminho próprio. Ele disse: “O Pai enviou-Me” e “Eu terminei a obra que o Pai me deu a fazer”.
Ora, o Cristo que vive em você e em mim pretende viver exatamente em acordo com estes cinco princípios, de maneira que em nossas vidas haverá glorificação do Senhor Jesus Cristo, e não auto–glorificação: o nosso viver será somente para agradá-Lo, e não para agrado próprio, mas uma vontade completamente entregue em submissão ao Senhor Jesus Cristo. Nós seremos realmente Seus escravos. Será uma vida vivida sem auto-confiança, nunca fazendo nada de nós mesmos. Acreditando que Ele vive Sua vida em nós, nossa dependência estará totalmente nEle.
Paulo aplicou isso na sua própria vida. O mesmo Cristo deve viver a mesma vida em você e em mim. Isto é tão profundo, e assim mesmo tão simples, justamente uma Pessoa Divina vivendo Sua vida num ser humano. Não é que Cristo vai viver Sua vida em nós com nossa ajuda. Não é que Ele vai nos ajudar a viver a vida cristã. Não é nenhuma dessas duas coisas. É exatamente o que nosso verso diz – Cristo vivendo plenamente Sua vida em nós. Acreditamos nisto? É esta a vida que você e eu temos vivido até o dia de hoje? Temos estado conscientes de que há uma Pessoa Divina dentro de nós, realmente vivendo Sua vida em nós?
Isso não poderia ser afirmado de maneira mais simples. Ainda temos nossa personalidade humana, mas existe outra pessoa vivendo, e vivendo em todas as áreas da nossa vida, não em uma pequena parte, mas em toda parte. O velho “Eu” está crucificado e portanto deve ser despojado como lemos Efésios. O novo “Eu”, o qual é Cristo em nós, a vida sobrenatural de uma Pessoa sobrenatural deve ser vivida plenamente em nós. Isso é verdade pra você e para mim?

Tradução: C.L.M.C
Extraído da Revista, À Maturidade, Número 22– Verão de 1992

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